O reconhecimento, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), da pandemia de COVID-19 em 2020 alterou drasticamente a forma como ocupamos e interagimos nos espaços físicos e virtuais. Nesta nova conjuntura de readaptação, a comunicação emergiu como um dos tópicos mais discutidos, pois tornou-se essencial para manter as conexões sociais e profissionais durante o isolamento.
Segundo a Anatel, o uso da internet – ferramenta indispensável para a continuidade das relações na pandemia – aumentou em quase 50%. Os usuários passaram a interagir cada vez mais em todas as frentes de redes sociais, como o Messenger, o direct do Instagram, o LinkedIn, e o TikTok, que foi o aplicativo mais baixado de 2020. Por um lado, a tecnologia permitiu que as pessoas realizassem tarefas diárias e, de alguma forma, mantivessem um senso de proximidade. No entanto, as formas de expressão foram diretamente afetadas, o que, em muitos casos, dificultou as interações.
O Impacto na Comunicação e no Dia a Dia
Os expedientes da linguagem e as formas de expressão foram profundamente impactados, complicando, por vezes, as interações sociais. A linguagem corporal, crucial para transmitir mensagens de forma completa, foi subitamente suprimida, já que o contato físico, a proximidade e os gestos – como o movimento das mãos durante a fala – deixaram de fazer parte das interações cotidianas. Essas interações tiveram que ser adaptadas ao enquadramento restrito de uma câmera.
Um exemplo claro dessa transformação pode ser observado na experiência de professores e estudantes durante as aulas online. Além da distância física, surgiu a dificuldade de manter o foco em atividades que muitas vezes se estendiam por mais de uma hora, em um ambiente onde trabalho, estudo e lazer se misturavam, exacerbados pelas constantes notificações que surgiam nas telas.
O contato intenso com a tecnologia gerou um bombardeamento de informações, que levou muitas pessoas à exaustão mental e emocional. Para os profissionais da comunicação, isso trouxe uma reflexão importante: em vez de focar em um grande volume de mensagens, o compartilhamento de conteúdos mais assertivos, direcionados, que gerem identificação pode ser uma estratégia mais eficaz. A humanização do conteúdo, mostrando empatia pelas dificuldades enfrentadas, tornou-se essencial para alcançar e engajar o público.
Uma das mudanças mais notáveis no processo de comunicação foi a transformação do ambiente corporativo. As empresas foram forçadas a adotar o home office em larga escala, o que demandou uma rápida adaptação a novas ferramentas de comunicação digital, como Zoom, Microsoft Teams e Slack. Essas plataformas se tornaram essenciais para a manutenção da produtividade e da colaboração entre equipes. No entanto, a falta de interação presencial trouxe desafios únicos, como a dificuldade em captar nuances comunicativas e manter a coesão do time. A comunicação assíncrona, onde mensagens são trocadas sem a necessidade de resposta imediata, também ganhou força, exigindo uma nova abordagem nas dinâmicas de trabalho e na gestão de projetos.
Além disso, aconteceram muitas mudanças nos hábitos domésticos e de consumo. Os horários de programação e as rotinas familiares sofreram alterações significativas. Costumes profundamente enraizados na cultura brasileira, como o tradicional futebol de quarta-feira à noite, não eram apenas sobre o esporte em si, mas também sobre a socialização e o ritual que ele proporcionava.
Com a interrupção dessas tradições, houve um crescimento notável no acesso às plataformas de streaming, que oferecem flexibilidade e a possibilidade de escolha de conteúdo. Em apenas seis meses, o Globoplay viu um aumento de 145% no número de assinantes. Este crescimento não só reflete uma mudança nas preferências de consumo de entretenimento, mas também evidencia uma adaptação a novos formatos de comunicação e expressão.
A pandemia acelerou uma série de mudanças que já estavam em curso, abrindo novos horizontes para as possibilidades trabalhistas, de consumo, políticas e culturais. Como observa a historiadora Lilia Schwarcz, “essa pandemia marca o final do século 20, que foi o século da tecnologia. Tivemos um grande desenvolvimento tecnológico, mas agora a pandemia mostra esses limites” (entrevista para a CNN Brasil). Com isso, a pandemia pode ser vista como um marco histórico que redefiniu o mundo e nossas interações.